Editora: Aboio
Ano de publicação: 2023
Gênero: Conto
N. de páginas: 108
Sinopse
O desaparecimento dos objetos do apartamento de uma mulher, uma chuva misteriosa sobre um cemitério à beira da privatização, uma descoberta tardia em um orfanato de meninas, a luta pela sobrevivência de uma nova espécie, uma partida de dominó em Araraquara, o segredo de um casal de búfalos, os dias de um dragão na praça de uma pequena cidade, o testemunho de um anão de jardim, as relações entre divórcio, dentes e autoritarismo.
Esse apanhado serve como um desenho do caminho trilhado pelo novo livro de contos de André Balbo. Como escreve Cristhiano Aguiar na orelha, Sem os dentes da frente segue uma tradição insólita latino-americana, ficando, no campo das referências, entre um Julio Cortázar e uma Mariana Enríquez.
“A unidade do livro repousa na utilização da ideia de ausência (e a falta de dentes é apenas uma delas) como elo articulador dos contos. Os contos de Balbo nos enredam, a partir do título, a fim de que sempre especulemos sobre qual ausência – e, talvez, de qual signo dentário – será abordada na história seguinte”, arremata Aguiar.
"Sem os dentes da frente, de André Balbo, não está tateando em busca de um caminho. O caminho já está aí, com estratégias narrativas bem definidas e seguras, linguagem concisa, imaginativa e, em várias das narrativas, um bem-vindo senso de humor. Além disso, o livro não é um compilado heterogêneo de contos, mas busca uma amarração conceitual que indique um projeto estético."
Professor e crítico literário. Autor de Gótico nordestino.
Editora: Reformatório
Ano de publicação: 2021
Gênero: Conto
N. de páginas: 160
Trecho da orelha
Agora posso acreditar em unicórnios veio pra mim no tempo entre dois mundos e, junto com eles, os contos de André apresentaram um terceiro: o da espera intransitiva onde o sussurro pede no cotovelo a passagem, onde a linguagem desponta o que sempre foi latente. Aqui, uma observação aguda de mundo é costurada pelo humor que é cúmplice na jornada de tatear a imensidão das nossas falhas. Dão as caras pelos contos as alegrias do engano, do ruído no código, de um rato sem rabo porque a desorientação geral se flagra na vida mais mínima, na que não tem vergonha.
A nossa coletânea de fracassos só pode mesmo ser reorganizada por pares de pulmões que sentem, e que sentem muito, sentem tanto que o doméstico se torna insustentável pelos montes de coisas minúsculas que, sozinhas, nem seriam percebidas, mas juntas desenham os contornos da angústia presumida num certo ser gente, num certo se olhar e se ver enturvado na casa que habita, na rua, nas moscas mortas nos cafés, televisão aberta, amigo imaginário, lanchonete vazia, guardanapos que esfarelam, gatorade pela metade, almas cheias de tarifas. O materialismo melancólico escancara a nossa precariedade doméstica: boias de salvação podem arbitrariamente virar pedras.
"A escrita de André é dum primor que surpreende como um vento que desperta velas fúnebres a cada amontoado de coisas e, num susto, acendem nossa posição de agora, e de agora, e de agora. Os contos avançam num trânsito muito engajador entre a língua da mente e a língua do pé até o mundo que virá depois desse, onde precisaremos da minúcia e do sussurro, ainda que desorientado, vivo."
Curadora e professora de escrita. Autora de A mulher do padre.